Estava Poirot sentado num banco do jardim, vendo o lixo deixado a descoberto pela maré baixa, e a resmungar sobre a pouca civilidade das pessoas e o desleixo de quem não manda limpar aquilo, quando ouve uma voz por demais conhecida chamá-lo
- Pirou, senhor Pirou, mas que faz aqui a estas horas?
Era a vizinha Henriqueta, que continuava, "sabe senhor Pirou, ainda bem que o encontro pois vai por ai um grande mistério que ninguém sabe explicar"
Poirot nem perdeu tempo a corrigi-la, por desnecessário, e, enchendo-se de repentina paciência replicou "Bonjour, vizinha. Bons olhos a vejam. Que se passa de tão importante?"
- é o dinheiro da campanha, Pirou. Dizem que, por milagre, 18 mil euros entregues por um partido para uma campanha de independentes se transformaram quase no dobro, mais de 32 mil. Como é possível, isso Pirou?
- Vizinha, não percebo nada de dinheiros, mas isso deve ser engenharia financeira, de certeza.
- Mas qual engenharia, Pirou, aquilo nem mestres de obras são, a maior parte mais parecem trolhas, quanto mais engenheiros.
- Não é isso vizinha, devem ter arranjado maneira de multiplicar o dinheiro. É o mais certo.
- Senhor Pirou, aquilo é video para aqui, video ali, fotografias, jantares de apresentação, cartazes por todo o lado. De onde vem o dinheiro?
- Vizinha - replica Pirou já aborrecido com estas coisas de dinheiro e política -, eles não têm por lá alguém relacionado com a igreja?
- Sim, senhor Pirou, anda por lá um rapaz simpático muito dado a essas coisas da igreja e o candidato até se chama Jesus.
- Então está tudo explicado, vizinha. Não precisa ir mais longe. Da mesma maneira que Jesus da Nazaré multiplicou os pães e o peixe, o nosso Jesus multiplicou o dinheiro.