O telefone toca. Poirot, preguiçosamente levanta-se e, com todo o tempo do mundo, lá se digna a levantar o auscultador. Arrependeu-se de imediato. Era a vizinha Henriqueta: “Senhor Pirou, mas que sinais são aqueles junto ao Hotel, tapados com fita negra? Morreu alguém?”
“Quais
sinais, vizinha?”, responde Poirot, “eu sei lá de alguns sinais!”
Henriqueta
não se calava :”Vamos lá senhor Pirou, tem que ver os sinais”
“Mais
tarde, vizinha, mais tarde”, diz Poirot.
Pelas
17,00, e com um belo final de tarde pela frente, lá foram os dois ver os sinais.
A
vizinha Henriqueta falava sem parar: “Boa coisa não deve ser, senhor Pirou, boa
coisa não deve ser. É um P e um g, isso vejo eu. Mas quais as letras em falta?”
Poirot,
já com muitos anos de experiência, viu logo do que se tratava: “Vizinha
Henriqueta o sinal diz Pago e das 9 às 24”.
“Mas
pago o quê, senhor Pirou? O pôr do sol? O mar calmo? A ria formosa? O que
querem que se pague?” continuava Henriqueta.
“O
estacionamento, vizinha. Que mais podia ser?”, responde Poirot.
Ver o mar ? Tá bem, abelha! |
E ela, sem parar “Mas a câmara quer que paguemos até aqui? Não é um exagero? E das 9 às 24? E aos sábados como vai ser?”
Poirot
exasperava: “Vizinha, isto não deve ser coisa da câmara. Cheira-me que é mais
coisa dos alemães e seus comparsas”
Henriqueta
ficou a pensar: “Alemães? Então a Merkel também quer tomar conta do
estacionamento em Olhão? Era o que nos faltava”
E
Poirot, respirando fundo “Qual Merkel. O outro, o alemão dos negócios. E olhe
vizinha, o tipo é bom nestas coisas, Ganhou o concurso, ainda não meteu um
tostão nisto, já aumentou o preço das amarrações, agora põe estacionamento pago.
Olhe, isto é que é dar uma chouriça e receber um porco. Grande negócio fez a Docapesca, sim senhor”.