ou o significado da palavra zero para os olhanenses. |
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Raul Brandão, Os Pescadores
"Sigo por um novelo de ruas pelos dois bairros típicos, o da Barreta e o da banda do Levante. A boca negra dum arco e outra rua tortuosa onde a luz não penetra. Algumas têm nomes que as pintam: a Rua dos Abraços, a Rua dos Sete Cotovelos. Vive-se ao ar livre, come-se ao ar livre, dorme-se ao ar livre. A rua, fedorenta e animada, pertence aos pobres. Abancam no meio das viela.". Mulheres curvam-se sobre as sertãs frigindo peixe. O azeite respinga e fede. Risos. Reparo nas atitudes, no suor e na cor avermelhada das mulheres debruçadas sobre as brasas, na familiaridade, no à-vontade, e naquele velho sátiro que avança para mim, com a caneca de vinho na mão a trasbordar. À roda, encostados às paredes, os remos, os cabazes e as redes; ao lado, o cano de esgoto que passa à mostra pelo meio da rua num escorro fétido.
Mas, se a rua é suja, a casa é limpa."